solarider
Beira a utopia falar em anonimato, considerando que a própria existência já demanda uma afirmação, uma explicação autoral – filho de quem, primo daquele, bastardo do outro. Mesmo que não lhe deem um nome próprio, sempre vão lhe chamar de alguma coisa: ser humano, bebê e em última escala, brasileiro. Mas não vamos desistir do assunto.
Beira a utopia falar em anonimato, considerando que a própria existência já demanda uma afirmação, uma explicação autoral – filho de quem, primo daquele, bastardo do outro. Mesmo que não lhe deem um nome próprio, sempre vão lhe chamar de alguma coisa: ser humano, bebê e em última escala, brasileiro. Mas não vamos desistir do assunto.
Entre muitas questões, a que mais parece sem resposta é quando se quer e quando não se quer aparecer. O “ser ou não ser” da nossa época está mais ligado ao sentido de assumir, de se tornar público. Uma aplicação do problema está no contexto cultural. Muito antes da discussão do direito financeiro do autor, há um problema relativo ao “ego” em torno da paternidade ou maternidade de um produto. Uma obra de arte, por exemplo, depende muitas vezes do nome do seu autor para que a sua própria exposição aconteça, a obra anônima tende a ser considerada mais como um artesanato.
Seja como for, em tempos em que o pensamento está em rede e a cultura está cada vez mais ligada ao ciberespaço, é próprio pensar se há espaço para todos se revelarem ou se todos estão comprimidos num mesmo espaço. O antropólogo Pierre Levy pensa que se por um lado tivemos um século (XX) em que a individualidade amadureceu e os direitos civis fizeram que cada um pudesse ser quem é sem prejuízos, por outro, a conectividade acaba destruindo as “estrelas solitárias” e transformando tudo numa “inteligência coletiva”, todos,que pensam ser diferentes, fazem e são a mesma coisa: anônimos.
Vamos aqui entender o anonimato não como uma tentativa de não estar, mas de esta mas não ser visto, aparecer. É uma discussão interessante, especialmente com muitos paradoxos dentro da “galáxia da internet”, conceito de Manuel Castells. Ver seu nome aparecer num mecanismo de busca não é ser famoso, mas também não caracteriza o extremo anonimato. No mundo real, é tentador confundir o anonimato e a solidão, ambos são ethos próprios das grandes cidades. Há um outro lado, o de poder ser vítima da micro notoriedade, o famoso “nome sujo”. Seja ao “aprontar” com o Estado, tornando-se um criminoso, seja cometendo pequenos vexames morais e sexuais, expondo-se ao deleite e à crítica da nossa própria família. Neste caso, vivemos numa grande falácia, num mundo que cada vez mais nos controla e menos nos reconhece na nossa individualidade.
deve ser bom ser totalmente anônimo mesmo...
ReplyDeleteNinguém quer ser anônimo...
ReplyDeletePelo menos, não sempre.Só em determinadas circunstâncias especiais.
Todos querem aparecer, ter seu nome reconhecido de uma forma elogiosa (e isso depende dos valores de cada um!). E numa sociedade na qual o que interessa são seus contatos (você é amigo, marido de quem??), a maioria não quer ser anônima, mas ser reconhecida como "amiga de fulano".
Meio absurdo, mas é verdade.
Somente aqueles que têm consciência do que são e convivem bem com essa realidade aceita viver no anônimato.
Enfim querer ser anônimo ou não depende da conveniência do momento...
Mas a natureza humana quer mesmo é se destacar, ser diferente dos demais e ser reconhecido por isso. E no anonimato fica difícil.
Saudades de tu!