Feb 27, 2010

Alguns conseguem...ser egocêntricos

Todos querem seduzir atualmente e para isso é mandatório ser egocêntrico

Observando um pouco o comportamento da geração que hoje alcança os 20, 30 anos, tenho um sentimento: quase todos são egocêntricos. É importante salientar que dentro desse “todos”, estão obviamente os de classe media, instruídos e com trabalho com rendimentos satisfatórios.

É impressionante a capacidade de autopromoção de algumas pessoas no seu círculo de amigos, de falar sobre suas vidas, seus maridos, do seu cachorro, do seu cabelo. O que na verdade, seria uma compensação. Não acredito que alguém que não tenha ganho um Oscar, um Pulitzer ou um Nobel da paz tenha motivos para falar de si próprio gratuitamente.

Para a estudiosa Maria Laura Franco, da Universidade de Aveiro, os jovens e suas representações sociais são a mesma coisa. Em outras palavras, “sujeito e objeto co-existem” sendo que para os jovens o ser individual não existe, o que eles querem ser é o que aparece, logo, eles são o que se associam. Em certas idades, a imagem é o indivíduo.

Feb 16, 2010

Alguns conseguem...não fazer drama


Gabourey Sidibe, a Claricee do filme “Preciosa”: sofrer é pouco

O drama frequentemente obscurece as questões reais. Isso é um fato mais do que evidente na história das relações. Aliás, o que seria do sofrimento sem o drama? Uma noiva sem um vestido, um toureiro sem o lenço vermelho, um choro que não derrama nenhuma lágrima.

Sofrer é inerente à condição humana, mas sua demonstração não. Dependendo da cultura, assistimos inesquecíveis formas de interiorização das emoções (vejam os budistas) como também podemos testemunhar verdadeiras indústrias de lenço de papel e água com açúcar. Passar por passagens lamentáveis na vida é uma questão de como aprendemos a ultrapassá-las, uns com muita e outros com nenhuma elegância.

Expressar os sentimentos é importante, mas podemos ter diferentes paradigmas. Ouvir toda a vizinhança em coro uníssono quando se termina um relacionamento pode ser brega, mas é mais confortável e sempre teremos um ombro amigo. Enquanto os outros, os que enfrentam solitariamente uma “coroa de espinhos”,podem querer esperar que os outros também o façam e negar-lhes compaixão. Isso é relativo.

O importante é reconhecermos nas tragédias o que fica e, reativar o mais depressa possível. Não significa que não devemos chorar os mortos nem deixar de assoprar as feridas, mas é um dom saber passar por isso sozinho.

Feb 7, 2010

Alguns conseguem...ser Proust


Proust, por Jacques Émile Blanche

Proust é o autor de “Em busca do tempo perdido”, coletânea de sete livros no qual narra diversas histórias de auto descoberta, com os personagens que de tão ricos emocionalmente, acabam por nos dar uma lição de humanidade.

Apesar do livro incontestavelmente incrível, um dos maiores, aliás, e da sua escrita magnificamente elaborada, esse é um caso em que a obra é maior que o autor. Marcel Proust é, diferente de outros pensadores, uma pessoa normal. Ele não viajou por muitos lugares como Verne, nem tinha fama de conquistador como Byron, pelo contrário, foi tão perdedor quanto qualquer um de nós pode ser.

Até os 28 anos não tinha vida afetiva, nunca trabalhou, era doente e também extremamente hipocondríaco. Pouco sociável, frequentava alguns bailes no hotel Ritz em Paris, mas sempre ficava aos cantos. Era super protegido pelos pais, o que lhe fazia mimado às vezes, apesar de bom amigo.

Uma das suas grandes qualidades, reconhecida por amigos em cartas, era mesmo compreender as pessoas. Sempre delicado, ouvia tudo pacientemente e nunca exigia dos outros o que ele já tinha. Uma mente rica em cultura e conhecimento, conversava muito com o seu motorista. Mesmo após o sucesso, nunca menosprezou um bom diálogo com quem quer se fosse. Até com sua empregada “que não sabia que Bonaparte e Napoleão eram a mesma pessoa”. Talvez esse seja o segredo da genialidade. Ser quem você é e não exigir nada dos outros.