May 30, 2010

Alguns conseguem...silenciar


Informação para todos os lados. Foi assim na década de 90, ainda de forma incipiente, não universalizada e está sendo assim desde o início dos anos 2000, de ritmo cada vez mais frenético.

Mas para que precisamos de tanta informação? Para que precisamos falar tanto? Quem perde estando desatualizado? Repostas convincentes não temos.

Nesta era, há certa competição em torno de quem está mais “por dentro”. Seja por razões econômicas (a lei do mais apto), seja por razões de moda ou tendência. O fato é que todos precisam falar. “Have your say”, dizem os ingleses.

Não entrando no mérito de discutir se o que é dito é ou não é relevante, acredito ainda no silêncio. Na paz expressa pelo mínimo. Silêncio no sentido absoluto. Na “não-expressão”, na falta do que dizer, no muito a sentir.

Recentemente, estive experimentando a sensação de estar duas horas sentado numa cadeira olhando para uma desconhecida. Quer dizer, desconhecida minha, mas uma veterana para o grande público das artes plásticas. Participei da performance da artista iugoslava Marina Abramovic, no Museu de Arte Moderna de Nova York.

A experiência foi perturbadora. Além de incômoda, difícil de aguentar e dolorida. Interessante que depois de certo estágio de consciência, comecei a perceber um pouco da lógica que a leva estar ali o dia inteiro há três meses: a chance de pensar.

É o que acontece com a meditação. E quem medita sabe o quão valioso é o equilíbrio que se alcança quando se tem prática. Mas nisso tudo, a mensagem deveria ser: pense mais, divague mais, saiba mais quem é e o que faz nesta vida. Esteja mais só e menos individualista. 

May 9, 2010

Alguns conseguem...ser independentes




Eis um tema difícil. Independência. O que é ser independente? Inicio com a questão ao meu raro e ilustre leitor. É ser livre? O que é ser livre? É fazer o que se bem entende? O que queremos fazer? É estar bem consigo? E quantos estão bem afinal?

Independência é algo relativo, já cansamos de ouvir isso. É algo que todos buscamos, será que conseguimos? Independência financeira (a mais perseguida), independência emocional (utópica), independência espiritual (nem sempre possível). Há várias formas de se sentir livre, mas será que ser livre é ser independente?

Precisamos sempre nos questionar se tudo hoje não é uma forma de prisão, de achatamento moral. O emprego, o casamento, a escola, os amigos, os amantes. Da mesma forma penso se a verdadeira independência é realmente desejada. Sempre desconfiei de que a liberdade pode ser um bálsamo perigoso.

Mas diria que se conformar com a “vidinha” de cada dia, com as amarras que a vida nos traz através dos processos sociais (casamento, reprodução, acasalamento) pode ser sim uma forma de independência, já que esta bendita palavra não precisa de complemento (independente de quem ou de que? – não se sabe).

Por outro lado, não podemos chamar a independência de liberdade, pois aí já é apelar para uma mentira. Ser livre é algo bem mais complexo e não depende do nosso entendimento, apenas; e sim de ações que poucos tomam de verdade, a maioria é ébria de mediocridade, loucos por um cômodo dia a dia.

May 2, 2010

Alguns conseguem...desejar


                                                                                Foto: Sion Fullana

O desejo. Aquele amigo de duas caras. Serve para chegar à menina mais legal do colégio, mas também pra desejar a mulher do próximo; para levantar a auto-estima e também desdenhar de quem nos quer bem.

As facetas do desejo são conhecidas, não dominadas. Como algumas doenças das quais se houve muito falar, mas que ainda não se tem a cura. O desejo que nos transforma em seres ativos, em verdadeiros caçadores, é também aquele que pode nos destruir. Novidade? Nem um pouco.

Bastar olhar nos contos, nos livros. Cantado, versado, interpretado. O desejo não é a simples paixão trovadora, a que nos faz suspirar. É a carne, o sangue, a dor. Desejo sexual, desejo material, desejo de hierarquia. Não importa qual seja, desejar é querer sem trégua um objeto – humano ou material. É se transformar em um pequeno monstro, ou na mais doce fada, em busca da mais visceral das paixões.

Depois do desejo, a satisfação; a paz; a tranquilidade. A cobra que suspira por um ano após devorar o seu caprino. O desejo é inútil. A sua existência soa como ferramenta para nos manter vivos, sãos, alegres, satisfeitos. O seu ciclo de vida varia, dependendo da maneira com que lidamos com ele ou de acordo com o valor do prêmio final. “Eu desejo o seu desejo”, mera utopia cantada na MPB pois desejo infelizmente é egoísta.