Feb 28, 2009

Alguns conseguem...estar sóbrios

Amy Winehouse: brilhante e viciada ou viciada e brilhante?

Num mundo cheio de preconceitos e problemas como o nosso, fico pensando no papel que os viciados de hoje desempenham. Seja para justificar cada vez mais a virtude - os digníssimos exemplos do nosso meio - seja para nos lembrar que há algo de podre no reino da Dinamarca.

Temos uma coleção enorme deles. Há os vícios já folclóricos, como o de trabalhar ou o sexo. Também tem os clássicos: drogas lícitas e ilícitas, roubo, compras, mentiras, status, manipulação, entre outros.

O fato é que nunca se soube bem se os que vivem à margem são causa ou consequência. Se são figuras a serem redimidas e trazidas à tona, ou se de tanta clareza e racionalidade, saíram para um mundo em que o que entorpece ajuda a não magoar suas piores feridas descobertas.

Ser viciado é um problema, disso não há dúvida. A questão é: qual o contrário disso? A virtude? A chatice? Margareth Mead dizia que virtude é quando se tem a dor seguida do prazer; o vício, quando se tem o prazer seguido da dor.

Não estou certo se depois de exercer o vício, sente-se dor - duvido que mais do que quem esteve sóbrio. Sei que sente-se culpa, basicamente as que os "sãos" imputam, talvez por não poderem se juntar a essa tentativa de vida.

Feb 14, 2009

Alguns conseguem...viver no campo

O Violeiro, Almeida Jr.

"Eu quero uma casa no campo"- Já dizia a nostálgica Elis Regina nos anos 70. Aliás, não só ela. João Bosco (Rancho da Goiabada) e Zé Ramalho (Vida de Gado) também fizeram sua apologia à suposta cultura do interior brasileiro. Aliás, esse mito também sempre existiu na TV. Basta olhar as novelas. Quantas histórias já se passaram em cidades pequenas: O Bem Amado, Roque Santeiro, Irmãos Coragem, só para ficar nas mais conhecidas.

Vamos lá. O homem do campo é bom, mas o da cidade também é. Os valores rurais são antigos e tradicionais, mas isso não quer dizer nada. As tradições aprisionam, o controle social enrijece vidas que poderiam ser mais interessantes; sempre penso nas pessoas que poderiam mudar o mundo e que podem estar aprisionadas em um cartório, em uma venda ou até em uma indústria, apenas pela falta de oportunidades de fazer mais e melhor. Deixar de viver na cidade pode ser mais barato, mas também tem o seu preço.

Não me compreendam mal. Nada tenho contra em morar numa cidadezinha de 10 mil habitantes ou até em cidades que pretendem ser grandes, mas possuem mentalidade inversamente proporcional ao seu número de habitantes; tudo pode ter seu charme. Olhando pela perspectiva de um idoso ou de um incapacitado, não deve existir nada melhor que acordar de manhã com o orvalho escorrendo pelas janelas ou com qualquer outro espetáculo da natureza na sua porta.

De fato, trocar o sossego por uma cultura cosmopolita, acelerada, pode lhe tirar alguns anos de vida. Todavia, para qualquer ser humano em idade economicamente, socialmente e sexualmente ativa, não existe nada melhor. Apenas a cidade civiliza, pois abriga as diferenças, o interior as deixa mais evidentes. Além disso, não precisa ser minoria para querer ter a sua intimidade preservada. É muito bom não ter que explicar quem era o rapaz que entrou no seu apartamento às 03h da manhã; ou ninguém reparar na sua roupa que está abarrotada ou porque você se separou do marido.

O ser humano é um bicho mutante. Algum lugar deste planeta deve funcionar como um laboratório de experimentações, de novas formas e estilos de vida, só assim a cultura vai se expandindo. Este lugar é a cidade e quanto maior ela for, melhor vai cumprir essa função. É certo que nem todo mundo reflete sobre a própria existência e nem faz questão de transgredir, isso é para a minoria pensante. De qualquer forma, a vida faz mais sentido quando damos vazão aos caprichos da vivência e não apenas quando nos preocupamos com o pão de cada dia. Nem que seja para daqui a 30 anos, tudo o que de mais emocionante que você tenha para fazer seja assistir carneiros e cabras pastando solenes no seu jardim.