Aug 1, 2010

Alguns conseguem...pertencer


Admiro os que sabem pertencer. Os que ouvem, calam, sorriem e seguem – nesta ordem. Comportar-se bem é um dom não só de interpretação, mas de auto controle. É uma catarse ao contrário. Não contestar é, além de uma boa técnica de sobrevivência, uma forma de liberdade.

Algumas palavras nos remetem ao sentimento de submissão: o bairro, a escola, a igreja, o grupo, a sociedade. O óbvio é estar dentro e não fora. É humano estar repetindo os seus semelhantes e anti-humano não reproduzir o sistema.

O outro lado da história é a teimosia, a necessidade de ir contra. Não a revolução – que é um ode à uma outra igualdade – mas a desobediência solitária passível de punição. É não estar feliz quando todos estão sorrindo, mas fazer sorrir de constrangimento, estar feliz com a transgressão e não com a afirmação de valores. Utopia? Talvez. Mesmo os mais singulares seres com o tempo cederam ao que é convencional.

Os artistas tradicionalmente são bons exemplos para os maus exemplos. A arte é em si uma tentativa de fuga. O desafio é compreender quando ela é de fato um grito sincero ou mais uma voz de um coro. Esse tipo de entendimento vai muito de cada pessoa e cabe à crítica nos conscientizar do todo. O problema é que a própria crítica também está dentro de um círculo, assim como os anarquistas, punks, os flaneurs, os loucos, os índios e todos aqueles que acreditam estarem sozinhos neste mundo. Paga-se um preço alto por não se pertencer, o preço da não existência.

2 comments:

  1. Lendo seu texto, eu fiquei imaginando em qual grupo eu me coloco: "os que pertencem" ou os "contestadores".
    Então vejo que sou humano mesmo e como humano sou incoerente, às vezes,ou muitas vezes. O que quero dizer é que não há uma regra para meu comportamento. Há momentos em que quero pertencer ao grupo e há outros em que contesto. Acredito que pássaros de mesma espécie voam juntos, então em meu grupo é natural que eu me encaixe, me adeque ao pensamento comum. No entanto, sei contestar fortemente aquilo que é contrário ao que penso. Não quero dizer que luto contra o outro pensamento. Eu o aceito, mas afirmo veementemente que não penso daquela forma. E nem me encaixo a uma realidade só por conforto.
    Lendo seu texto, vi que sou um contestador contra todo pensamento que não respeita minha liberdade de pensar. Que me obrigue a algo, ainda que delicadamente. Nesses momentos, as pessoas irão estranhar o Fernando sempre tão silencioso.

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  2. Cadê você??
    Não tem escrito no blog. Estou com saudades de seus textos.
    Abraços! Fernando

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