Memorial das vítimas de 11/09, em Knoxville, EUA
O que é um nome? Os apressados diriam: “um rótulo!”, “uma generalização!”, “um conceito”. Nomes existem desde sempre e uma das primeiras reflexões feitas no Ocidente sobre o assunto vem da Bíblia e sua centena de nomes para tudo e para todos, além do segundo mandamento. Nomes para pessoas, nomes para coisas, nomes para sentimentos. Tudo tem um nome e este vem obedecer à lógica cultural a que estamos submetidos. Estudos dizem que até os golfinhos se dão nomes. Nomear é um serviço útil e simbólico, usado e abusado pela Semiótica.
Dependendo do campo, estudar os nomes pode ter diferentes abordagens. Estudar nomes próprios de pessoas é analisar o social, o psicológico, o antropológico. Entender os nomes complexos das fórmulas e espécies já requer conhecer Biologia. Independente disso, o exercício cognitivo do batismo parece o mesmo em diferentes ambientes. O batismo religioso no nascimento parece só revestir de indumentária o que homem faz em segundos, apenas observando o ser ou objeto nomeado. Um nome que é concedido pela história, pelo mérito ou simplesmente pela estética. O mesmo nome tem razões diferentes de ser. Até que ponto é grotesco ou honroso chamar um aeroporto de Tom Jobim? Ou Leonardo Da Vinci?
Nomes fazem lucrar. Não só o lucro comercial de uma marca, mas também o capital emocional e simbólico de quem carrega um nome bonito, expressivo. Por exemplo, sempre quis ser da família Greenglass, por achar um nome bonito e histórico. O poder das Marinas: Marina Abramovic, Marina Poplavskaya, Marina Silva, Marina Morena de Caymmi. Maria como a eterna mãe; Davi, o lutador; Hitler, o mal encarnado. Ironicamente, os antigos reis precisavam de adjetivos acrescidos aos seus nomes: Felipe, o belo; Ricardo, coração de leão, entre tantos outros. O nome complementa o sentido semiológico de “primaridade”, ou seja, o sentimento como qualidade, o in totum – o que não precisa de explicação para existir e que atravessa as línguas dentro do mesmo sentido – amor sempre será amor, seja qual for a tradução.
Nomes aprisionam. Ao criar heterônimos, Fernando Pessoa rejeitou sua unicidade como artista. É compreensível, pois, seja como for, apesar de sua importância, o nome já pertence à um tipo de matéria, a uma construção posterior ao instinto, à emoção, tema tão caro também à Clarice Lispector (“O que desejo ainda não tem nome”). Não que chamar também não evoque os sentidos, afinal, como soa diferente o seu próprio nome chamado pela pessoa amada?. No entanto, ainda sou partidário de que o sentido de tudo está no invisível ou se podemos vê-lo, ele é um gesto, uma fração de segundo de uma intenção, de um olhar. Nomes são fenômenos úteis e nem sempre viver tem algum sentido prático.