Admiro os que sabem pertencer. Os que ouvem, calam, sorriem e seguem – nesta ordem. Comportar-se bem é um dom não só de interpretação, mas de auto controle. É uma catarse ao contrário. Não contestar é, além de uma boa técnica de sobrevivência, uma forma de liberdade.
Algumas palavras nos remetem ao sentimento de submissão: o bairro, a escola, a igreja, o grupo, a sociedade. O óbvio é estar dentro e não fora. É humano estar repetindo os seus semelhantes e anti-humano não reproduzir o sistema.
O outro lado da história é a teimosia, a necessidade de ir contra. Não a revolução – que é um ode à uma outra igualdade – mas a desobediência solitária passível de punição. É não estar feliz quando todos estão sorrindo, mas fazer sorrir de constrangimento, estar feliz com a transgressão e não com a afirmação de valores. Utopia? Talvez. Mesmo os mais singulares seres com o tempo cederam ao que é convencional.
Os artistas tradicionalmente são bons exemplos para os maus exemplos. A arte é em si uma tentativa de fuga. O desafio é compreender quando ela é de fato um grito sincero ou mais uma voz de um coro. Esse tipo de entendimento vai muito de cada pessoa e cabe à crítica nos conscientizar do todo. O problema é que a própria crítica também está dentro de um círculo, assim como os anarquistas, punks, os flaneurs, os loucos, os índios e todos aqueles que acreditam estarem sozinhos neste mundo. Paga-se um preço alto por não se pertencer, o preço da não existência.