Jul 18, 2010

Alguns conseguem...ressignificar


Desde a popularização das chamadas “redes sociais”, assistimos intensos movimentos de “arqueologia sentimental” entre os seus participantes. Especialmente para quem chega, procurar ex-amigos, ex-namorados(as), ex-professores e até ex-desafetos é quase um caminho natural. Importante é fazer a “máquina do tempo” funcionar, construir uma ponte da nossa pré-história até o ontem.

Longe de ser um mérito do Facebook ou do Orkut, desde sempre, “até as pedras se encontram” como diz o ditado. Gerenciar pessoas cujo significado esvaiu-se com as folhas do calendário é mais uma questão de coragem do que de indiferença.

O apego ao passado pode ser justificado de várias maneiras. Não podendo entrar em todas agora, poderíamos citar a própria cultura do “bairro” como uma das motivadoras. Viver numa comunidade nos deixa com um robusto senso de eu e reviver isso, é um conforto ao sempre sombrio presente.

Por outro lado, há um traço de decadência e mediocridade neste apego. A tentativa de resgatar as experiências passadas como se faz com os “fósseis” soa como um casulo provinciano, do qual, nós, pessoas livres, temos que escapar.

Nada contra ao que aconteceu no passado, o que se deve combater é que através de pessoas que fizeram partes do "ser anterior", justifiquemos a nossa inatividade e a inutilidade de velhos amigos que por questões infantis, os trazemos à tona, como bandeiras de uma causa perdida.

Jul 10, 2010

Alguns conseguem...viver o seu espírito

Robert Judd - Bewusstein, 1610.

Uma das questões pouco faladas na literatura de nosso tempo é o pensar. Esse gesto individual e secreto de organizar o que se passa na nossa cabeça, elaborando uma resposta que faça sentido para nós mesmos e em seguida para os outros. À essa convivência íntima, que inclui não só o pensamento, mas as emoções e seus derivados é que damos o nome de espírito.

No Latim, a palavra vem de “spiritus”, que significa respiração ou sopro. “O sopro da vida”, “Espírito de porco”, “Pobre de espírito”. Inúmeras vezes temos o conceito de “espírito” misturado com o de “alma”. Filósofos explicam que, um dos desafios de se pensar o espírito hoje é a própria educação judaico-cristã a qual estamos submetidos. Nela, a alma (que é de Deus), está em todos os lugares, inclusive no que chamamos de intelecto: impedindo automaticamente de nos imaginar seres autônomos, cada qual com o seu espírito individual e não dentro dessa amálgama moral.

Hannah Arendt escreveu “A vida do espírito”. Coletânea que em três volumes reflete sobre o tema a partir de grandes ações humanas: o querer, o pensar e o julgar. A obra - incompleta, pois a autora faleceu durante a escrita - nos faz viajar por séculos de pensamento, partindo da antiguidade clássica até os grandes alemães.

A dúvida nos nossos dias é mesmo saber onde foi parar o espírito. A palavra é cara às grandes denominações cristãs, e na melhor das hipóteses, tornou-se um modo de se referir a alguma coisa metafísica. Numa época em que a sede por registros é grande (vide o fenômeno das redes sociais), seria de extrema valia viver numa terra de menos corpos e mais espíritos, segundo o conceito aqui apresentado.