Aug 10, 2008

Alguns conseguem...Ser pai

Pai e Filho (2003), Filme de Alexander Sokurov

Pensar a paternidade é sempre entrar num universo cercado pela polêmica, primeiro porque não há nem uma evidência aparente sobre ela, a não ser a semelhança física; segundo porque hoje, num universo de milhões de mães solteiras no Brasil, fora outros tantos mundo a fora, acaba se tornando uma figura meramente alegórica, sem utilidade. Desde os tempos antigos, o pai costuma ser ligado à força, à energia vital, ao enquadramento do indivíduo na sociedade. Pai é aquele que estimula o vencimento de barreiras, o que instrui para a competição e o que também repassa todas as vísceras culturais daquela sociedade, i.e., os palavrões, “a coçada”. Esteticamente falando, temos várias referências culturais sobre os pais, desde Fábio Jr. e seu clássico dos anos 80 até o próprio papa, depois que sua figura virou pop. Ao longo da história, o pai foi o senhor das Casas Grandes, na sociedade patriarcal, na definição romântica de família, era consultado quando o rapaz ia arduamente pedir a mão da mocinha.

A degradação do pai é a própria descentralização da sociedade na figura do homem, mas isso é uma outra discussão, o que podemos ver por alto é que a maioria dos presos e assassinados são homens e existe mais de um milhão de crianças sem pai, portanto, eis a pergunta: quem seria este ser fantástico?Um esperma (entre milhões)? O padrasto? Ninguém? - O que faz o pai? Ele paga as contas? Não. Ele estabelece regras? Não. Ele dá um aconchego emocional à família? Não.

Talvez o pai de hoje seja uma entidade virtual, aquele que chega de repente e se estabelece como uma fonte de informações sobre este mundo, que para alguns é Jesus ou o Padre Marcelo Rossi, para outros é o vereador da cidade. Até o jogador Ronaldinho pode ser visto como uma espécie de pai para milhares de torcedores. Considerando também que mulheres sempre supriram muito bem este lado, podemos dizer que apenas alguns conseguem ser pai não porque estamos numa sociedade libertária de mulheres evoluídas e independentes, mas porque esta figura ainda carece de utilidade neste nosso mundo contemporâneo.

2 comments:

  1. Antigamente o Pai era o Senhor da Verdade mesmo estando errado, todos concordavam com ele. Acho que o Pai ficou acomodado enquanto todos evoluiram, mães, filhos, filhas.
    O Pai não perdeu a utilidade. Mas precisa de uma renovação. Acho que os filhos cobram isso o tempo todo, mas o Pai não consegue seguir os passos deles pois ficou muito tempo parado...
    Abs.

    PS. Tenho 3 filhos, e sei como é dificil acompanhá-los. Mas não devemos desistir de ser Pai!

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  2. Concordo em certo ponto com seu texto, o que me deixou meio incabulado foi a parte onde você comentou que pai pode ser qualquer pessoa, desde que você confie nela, até mais do que seu pai verdadeiro. Na minha hulmide opinião, o pai é aquele que acompanha de perto o seu filho, mesmo que essa presença não seja continua. E essas pessoas consideras como ídolos, não são pai oficiais. Se fosse para considerar alguém como pai oficial de todos,até como pai universal, seria Deus; mas como religião é um assunto muito polêmico, deixa essse comentário passar.....

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