Jan 31, 2010

Alguns conseguem...se sentir no Haiti


Para contrastar com a atualidade, uma imagem de crianças felizes no Haiti

Falar do Haiti infelizmente já virou lugar comum. Já habitou-se ver nas primeiras páginas dos jornais fotos escandalosamente dolorosas, pessoas em pânico, muita gente nas ruas e faminta. Isso pode não chocar aos pragmáticos, tamanha a urgência dos fatos mostrados e uma certa banalidade da forma que tudo é exposto. Por outro lado, desencadeia uma corrente de desesperados, que com razão, querem de alguma maneira ajudar. 

De qualquer forma, ao ler os depoimentos de jornalistas que estiveram lá e de voluntários, é notório que só estando lá para se ter a real perspectiva do que é um terremoto de grandes proporções que acontece num lugar pobre e caótico. É quase impossível para a maioria de nós, no conforto de nossas cadeiras de escritório, ter sequer uma idéia do que ocorrido, nem no nosso sonho mais escabroso.

Sempre me pergunto se eu conhecesse um haitiano o que lhe diria neste momento. Não sei. Talvez nada, pois é um nada que se cabe dizer nesta hora. Não só neste exemplo, mas quando uma mãe perde um filho jovem em um acidente, um pai de família que se vai por motivos sórdidos, alguém assassinado em um semáforo. O que dizer nesses casos? É impossível sentir a dor alheia, isso é fato. Então, melhor calar e respeitar o momento; ele há de passar, nem que dure anos, como será com a reconstrução do Haiti.

Jan 24, 2010

Alguns conseguem...retornar

Kirstin Scott Thomas e Elsa Zylberstein em "Há tanto tempo que te amo": A culpa é a pior inimiga dos que retornam.

Retornar não é nada fácil. Voltar de um lugar representa reencontrar velhos amigos, voltar de viagem é parar de sonhar, voltar para alguém é o assumir os seus (e o nossos) defeitos. Recomeçar algo é fazer duas vezes a mesma coisa, desta vez trazendo consigo a nostalgia do que é bom e a amargura do que já foi vivido.

Um bom filme sobre retorno. Nada sobre o “Retorno da Múmia” ou o “Retorno de Jedi”. É “Há tanto tempo que te amo”(Il’a longtemps que je t’aime – França, 2008) com a comovente Kristin Scott Thomas. Ela faz uma mulher que depois de cumprir pena por muitos anos, retorna para morar com a irmã e reconstruir a vida. Nesta película, ela desafia a si mesma o tempo todo, vencendo antigos traumas e defeitos, e sem melodramas, tenta encarar a sociedade e seus preconceitos contra “criminosos” (esta história jamais se passaria no Brasil).

É com a lembrança desta história que “Alguns conseguem” retorna. Na sua tentativa de, através de postagens quinzenais, trazer um pouco de reflexão sobre a vida, os costumes e as pessoas. Ou seria em ordem inversa? Comecemos de novo a frase.